quinta-feira, 8 de março de 2012

Não nos permitamos


 


Refletindo sobre nossos companheiros de jornada, é provável que, em alguns momentos da vida, nos deparemos com uma angustiante questão.

Olhamos para nossos pais, cônjuge, filhos ou amigos e nos perguntamos: Quando foi a última vez que recebi ou que lhes ofertei um abraço?

O toque, seja através do afago, do beijo ou do abraço expressa nossos sentimentos, enche a vida de ternura e aquece a alma de quem o oferece e de quem o recebe.

As manifestações sinceras de afeto fazem as pessoas se sentirem amadas e queridas pois demonstram o amor que as envolve.

Ter a liberdade de falar sobre os sentimentos e expressá-los, com equilíbrio e sensatez, também mantém apertados os laços que nos unem às pessoas com as quais nos relacionamos.

Ao constatarmos a distância estabelecida sutilmente entre os afetos, uma grande tristeza nos invade. É o momento em que nos questionamos: Quando e como começou a ser estabelecida essa distância?

Como pudemos permitir que chegasse a esse ponto? Quem foram os responsáveis? E agora? Como fazer para construir novamente essa ponte de ligação com as pessoas amadas?

Olhamos para trás buscando as respostas, na tentativa de começar a construir um caminho diferente, uma nova aproximação.

Muitas vezes, essas respostas não serão facilmente encontradas pois, por mais que busquemos nos arquivos de nossa memória, será difícil identificar o registro de quando foi que tudo começou.

Essa análise do passado é importante, pois descobrindo onde erramos, podemos, a partir dessa constatação, agir de outra forma.

Verificamos então, que talvez tenhamos nos permitido adotar algumas atitudes que podem ter nos distanciado lenta e gradativamente dos seres amados.

Foi o Bom dia deixado de lado pela pressa de começar logo as atividades de mais uma jornada de trabalho; o Boa noite esquecido, vencido pelo cansaço.

Os sentimentos ocultados pela quietude diária, onde cada um se envolve apenas com suas próprias questões pessoais.

A falta de compreensão e de companheirismo, o egoísmo, as mentiras sutis, as mágoas acumuladas e os pequenos desentendimentos.

Essas atitudes são como gotas pequeninas que, com o tempo, se transformam em imensos oceanos.

E quando nos damos conta, não mais sabemos atravessar esse espaço e tocar alguém que tanto estimamos.

Canção das Mulheres - Uma homenagem a você!

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.
Lya Luft